terça-feira, 2 de setembro de 2008

Tristeza...

Tristeza

2 comentários:

Anónimo disse...

Tristeza nao tem fim...
felicidade sim ...

Anónimo disse...

Andrey Tarkovsky em Paris

Perdeste. Não sabes o quê.
E procuras.

Algo de impreciso, uma nuvem
ao entardecer, imagem
capaz de restituir a luz que vai declinando
na casa, no corpo, no rosto,
até nada mais restar do que
um lugar vazio,
a memória.

Perdeste. Há quanto tempo
não sabes.
Algo que sempre te acompanhou,
e não é sombra,
pois carece de contornos.
Algo que te foi destinado: mensagem,
quando estavas fora de casa;
olhar, ao qual distraído não respondeste;
pergunta, feita por essas mãos
junto às tuas, fechadas.

Algo para o qual nunca tiveste nome
e tempo dentro de ti:
passagem de um livro que ainda não leste,
pormenor de uma pintura a descobrir;
trecho de música por escutar,
fala de um filme que não viste?

Não adianta tentares adivinhar.
O que perdeste não foi um modo de compreensão
do mundo, o seu peso e leveza
da retina à película.
Se calhar, essa perda aconteceu na época
em que finalmente alcançavas
aquilo a que os estóicos chamavam serenidade?
O método de pelos restantes dias
esperar o inferno da doença,
sem que o receio da morte
transforme a arte num poço.

Aquilo que perdeste,
perdeste-o acaso para que um outro o alcançasse,
neste momento?



Jorge Gomes Miranda, in O Caçador de Tempestades